Profissionais aliados aos robôs podem garantir emprego e ser mais felizes • 22 Graus Comunicação e Marketing

Profissionais aliados aos robôs podem garantir emprego e ser mais felizes

Mercedes-Benz U.S. International Plant located in Tuscaloosa County. Original image from Carol M. Highsmith’s America, Library of Congress collection. Digitally enhanced by rawpixel.

Especialistas alertam que o mercado de trabalho 5.0 pode ser colaborativo e robôs devem ser vistos como aliados. Separação dos papéis entre homens e máquinas otimiza processos, aumenta lucros, garante empregos e pode até melhorar o clima nas corporações. ‘Amizade’ com boot’s é viável

A inteligência de artificial, com seus algoritmos que processam dados e entregam resultados concretos, tem transformando o mundo do trabalho. À medida que a tecnologia evolui, a possibilidade de substituição de seres humanos, em muitas tarefas, surge como preocupação profissional.

Rannyer Barboni, 47 anos, passou em várias etapas em um processo seletivo. Porém, não conseguiu um posto de trabalho porque não dominava uma ferramenta de gestão de compras. Apesar de ter desenvoltura digital em sua área, ela comenta que nem sempre é fácil acompanhar todas as tendências. E, muitas vezes, a máquina substitui algumas de suas tarefas. “Estou me recolocando no mercado e vejo que muitos postos de trabalho ou tarefas foram substituídos. E nem todas as habilidades demandadas eu domino. Isso é angustiante”.

E não é apenas uma impressão. Segundo dados do Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações (LAMFO) da Universidade de Brasília (UnB), mais da metade dos empregos formais no Brasil (54%) estão ameaçados de substituição por máquinas. Cerca de 54% das pessoas ocupadas encontram-se em funções classificadas com probabilidade “alta” (60% a 80%) ou “muito alta” (acima de 80%) de serem exercidas por máquinas. São funções tipicamente rotineiras e não-cognitivas”, como ascensorista de elevador. Também estão na lista tarefas cognitivas num nível já alcançado por formas de inteligência artificial (IA), como o cobrador de ônibus.

Para Edgar Jacobs, advogado, especialista em tecnologia e inteligência artificial e professor da faculdade SKEMA, as diversas realidades levantam preocupações legítimas. Jacobs defende que os estudos mais atuais em inteligência artificial voltados para o mercado de trabalho indicam a construção de um formato híbrido e colaborativo em que os robôs sejam aliados dos humanos: “Para afastar o medo devemos colocar a inteligência de artificial ao lado da inteligência humana. Esse é seu lugar. A IA serve para otimizar processos, executar tarefas operacionais, deixar as pessoas livres para atuar estratégica e criativamente. Nesse sentido, sem deixar de pensar que alguns profissionais precisarão ser preparados para o novo contexto eu proponho que encaremos os boots como ferramentas que facilitam nossas vidas. Quem sabe esse é um começo para um mercado de trabalho novo, que, se bem explorado, pode criar postos de trabalhos menos estressantes?” provoca Edgar.

O especialista alerta ainda que é fundamental que todos saibamos utilizar as ferramentas mais demandadas em cada área e as básicas para todas. E reforça que, da mesma forma que há atividades em que a máquina performa melhor que o homem, existe o revés. E exemplifica isso nos processos:

Processo discursivo – Os melhores argumentos e discursos são construídos pelo debate, que exige uma contraposição de argumentos diferentes ou mesmo contraditórios, porém a construção por meio de inteligência artificial, mesmo se pensarmos em algoritmos avançados como os do Chat GPT ou do Bard, é feito à base da otimização constante. Cada próxima palavra ou expressão tem coerência com a anterior e com o que se espera de resposta convencional para uma pergunta. Por isso, a criação de negócios e a inovação provavelmente continuarão sendo tarefas bem humanas por algum tempo.

Processo de percepção do contexto – Nosso conhecimento do mundo é baseado em dados e em um nível de percepção que a inteligência artificial não consegue emular. Assim, por exemplo, entramos em uma sala e notamos dados como: 2 cadeiras, 2 mesas e 3 pessoas. Mas também podemos perceber um tipo de informação especial: o desconforto da pessoa que não tem cadeira disponível, o “clima” ruim entre as pessoas na sala e outras questões que ainda não podem ser mapeadas por máquinas. Isso nos dá uma vantagem. Sentir, ter empatia, saber calar e sorrir no momento certo, cada um desses detalhes pode ser essencial nos negócios ou em qualquer profissão existente.

Edgar contextualiza que a expressão profissional “à prova de máquina” vem do estudioso Aoun, Joseph que em sua obra À prova de robôs: Educação superior na era da inteligência artificial e destaca que estudiosos indicam que essa vantagem humana pode ser aperfeiçoada quando aprendemos – ou reaprendemos – questões básicas. Para Aoun, precisamos de três letramentos – ou literacias – para o mundo digital:

Literacia humana – aprender a ser mais humano no mundo com mais máquinas, melhorando ainda mais nossa capacidade de viver em comunidade e diversidade.

Literacia de dados – conhecer mais sobre dados no universo da informação e saber selecioná-los, protegê-los e aplicá-los ao nosso dia-a-dia.
Literacia tecnológicas – conhecer processos de inteligência de máquina e entender que existem vieses e falhas comuns, mesmo nas ferramentas mais sofisticadas.

Jacobs lista 15 habilidades e competências dos profissionais desse mercado 5.0, as três principais são:
1)Pensamento crítico – para otimizar produtividade e saber excluir o que não é útil.
2)Pensamento sistêmico – ter uma noção do todo e conseguir fazer conexões com outras áreas sempre com inspirações empreendedoras e com ações glocais.
3)Pensamento cultural – usar o multiculturalismo e a diversidade como força para alinhamento humano em nível mundial e para a solução de novos conflitos entre as pessoas.
Além delas, são necessárias:

4)Empatia;

5)Ética;

6)Comunicação;

7)Relacionamento;

8)Domínio de tecnologias;

9)Autoeficiência;

10)Responsabilidade;

11)Capacidade de colaboração;

12)Pensamento crítico;

13)Criatividade;

14) Metacognição (aprender a aprender); e

15) Autocontrole.

O especialista alerta ainda que os que estão há mais tempo no mercado de trabalho sentem mais para se adaptar “O salto do conhecimento é difícil para todos. Porém sentem mais aqueles com mais de 50 anos, criados de modo analógico, como eu mesmo. Existe um overbooking de conhecimento, uma pressão por performance, uma crise econômica e ambiental mundial. Sem falar na pressão até para ser feliz. Tudo isso provoca opressão e até novas doenças ligadas ao trabalho. Incluir a tecnologia pode ajudar. E as corporações devem estar atentas às tendências de inteligência humana da mesma forma que estão atentas à IA porque são complementares”

Ana Paula Veloso, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Carreira da faculdade SKEMA, concorda com Jacobs e complementa que os aspectos emocionais e de formação educacional interferem de forma significativa para a inserção estratégica dos profissionais no mercado de trabalho. Ana Paula considera que esse é um fluxo pela demanda em IA pode colaborar com a educação caso sejam implantadas políticas públicas de qualificação e recondução dessa mão de obra para funções mais qualificadas.

“A presença da máquina pode ser usada também como ferramenta de estímulo ao desenvolvimento constante dos profissionais, desde que haja um alinhamento educacional e geral nessa direção. Escolas e empresas devem considerar intervenções educacionais que contribuam nesse sentido. Treinamento constante e desenvolvimento ou aprimoramento de competências – “upskilling e reskilling” já devem fazer parte da realidade das escolas e das empresas. Políticas públicas que incentivam esse desenvolvimento são bastante bem-vindas em nosso mundo do trabalho contemporâneo. A formação digital precisa estar incluída nesse pacote porque, não só esses, mas todos os profissionais precisam rapidamente estar habilitados para usar as tecnologias.

Precisamos aprender como os algoritmos funcionam, o que podem fazer por nós, qual seu papel de facilitador da sociedade para que passemos a trabalhar em conjunto. A tecnologia deve ser vista não como ameaçadora, mas como ferramenta que colabora para novas conquistas e novos resultados de maneira geral. não é ameaçadora é colaboradora. E ainda, perceber que esses novos processos e métodos de trabalho vem acompanhados de novas (ou desconhecidas) emoções é ponto de fundamental importância e confirma nossa posição distinta da IA, nossa capacidade de refletir a respeito das atividades de trabalho, perceber o que elas significam para nós e como nos posicionaremos conscientemente – habilidade exclusivamente humana – para fazer parte da nova realidade de trabalho.” comenta.

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